02/12/2020

Público precisa se preparar para efeitos colaterais da vacina, diz Science

Redação do Diário da Saúde
Público precisa se preparar para efeitos colaterais da vacina, diz Science
A grande preocupação é com as vacinas de mRNA, que nunca foram aprovadas antes.[Imagem: Pixabay]

Efeito colateral da vacina

Embora as vacinas pareçam ser a única esperança para liquidar de vez com a pandemia de covid-19, elas não chegarão sem trazer seus próprios problemas.

Em um artigo publicado em sua última edição, a renomada revista Science chama a atenção para os efeitos colaterais das vacinas, afirmando que "o público precisa se preparar para os efeitos colaterais da vacina", qualquer que seja a versão aprovada.

A reportagem começa contando a história do biólogo Luke Hutchison, que trabalha em pesquisas contra o câncer no Beatson Institute for Cancer Research e que se apresentou como voluntário para os ensaios clínicos da vacina contra covid-19 da farmacêutica Moderna.

Mas nem tudo saiu como esperado, conforme conta a reportagem: "Mas, após a segunda injeção, seu braço inchou até o tamanho de um 'ovo de ganso', conta Hutchison. Ele não podia ter certeza se tomou a vacina e não um placebo, mas em poucas horas, Hutchison, que era saudável e tinha 43 anos, teve dores nos ossos e músculos e uma febre de 38,9 °C. 'Comecei a tremer. Tive pressões de frio e calor,' disse ele. 'Fiquei sentado ao lado do telefone a noite toda pensando: Devo ligar para a emergência?'"

Elefante na sala

Os sintomas de Hutchison desapareceram após 12 horas. Mas, destacou ele, "Ninguém me preparou para a severidade disso."

O biólogo destaca que o público deveria estar mais bem preparado do que ele, porque um subconjunto de pessoas poderá enfrentar efeitos colaterais intensos, embora transitórios, chamados de reatogenicidade, da vacina da Moderna.

Vários especialistas ouvidos pela reportagem da Science concordam.

"Alguém precisa lidar com o elefante na sala: E quanto à reatogenicidade da vacina? Embora ... não vá causar problemas de longo prazo ... como essa percepção passará para o público quando eles começarem a recebê-la?", questionou a Dra Deborah Fuller, uma vacinologista da Universidade de Washington, cujo laboratório está desenvolvendo vacinas de RNA de segunda geração contra covid-19.

A cientista teme que os efeitos colaterais possam alimentar a hesitação contra a vacinação. "Eu sinto que está sendo encoberto," disse ela.

Público precisa se preparar para efeitos colaterais da vacina, diz Science
Poucos cientistas têm-se mostrado dispostos a falar abertamente sobre a vacina contra covid-19.
[Imagem: Kurt Stepnitz/MSU]

Vacinas de RNA

As vacinas de mRNA, ou RNA mensageiro, são outro problema sobre o qual os cientistas têm mantido um silêncio preocupante. Até o início da pandemia de covid-19, 12 candidatos a vacina baseados nesta nova tecnologia haviam sido submetidas a ensaios clínicos: Nenhuma foi aprovada.

Todos os especialistas no assunto têm falado no meio acadêmico sobre as preocupações de reações autoimunes a longo prazo das vacinas de RNA. As chamadas "meta-análises", que são revisões que cientistas renomados fazem de toda a literatura científica publicada sobre um determinado assunto, também têm criteriosamente levantado a necessidade de estudos de longo prazo sobre as vacinas de RNA, sobretudo quanto ao risco eventual de reações autoimunes. Mas o assunto não tem chegado à imprensa e nem tampouco ao público.

A revista Nature também havia destacado o problema em um artigo intitulado "Vacinas mRNA - Uma nova era na vacinologia", publicado antes da pandemia.

Diz a reportagem: "Uma possível preocupação poderia ser que algumas plataformas de vacinas baseadas em mRNA induzem respostas potentes do interferon tipo I, que têm sido associadas não apenas à inflamação, mas também potencialmente à autoimunidade. Assim, a identificação de indivíduos com risco aumentado de reações autoimunes antes da vacinação com mRNA pode permitir que precauções razoáveis sejam tomadas. Outro problema de segurança potencial pode derivar da presença de RNA extracelular durante a vacinação de mRNA. Foi demonstrado que o RNA extracelular nu [sem cobertura de outras partículas] aumenta a permeabilidade de células endoteliais compactadas e pode, portanto, contribuir para o edema. Outro estudo mostrou que o RNA extracelular promove a coagulação sanguínea e a formação de trombos patológicos. A segurança, portanto, precisará de avaliação contínua, conforme diferentes modalidades de mRNA e sistemas de distribuição são utilizados pela primeira vez em humanos e são testados em populações maiores de pacientes."

Em um artigo mais recente, publicado no último mês de Outubro, a mesma revista Nature apresenta uma revisão sistemática de todos os candidatos a vacina contra o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. No tocante às vacinas de mRNA, a revisão conclui que, "Levando tudo em conta, é essencial identificar epítopos capazes de induzir respostas imunes potentes, ao mesmo tempo em que se diminui a probabilidade de induzir autoimunidade."

Autoridade da Ciência

Enquanto isso, as empresas farmacêuticas têm pressionado os governos que querem garantir o fornecimento de suas vacinas a assinar "termos de compromisso de segurança", que isentam essas empresas de quaisquer responsabilidades, tanto quanto à eficácia das vacinas para eliminar a covid-19, quanto para garantir isenção de responsabilidades judiciais e pagamentos de indenizações.

E existe ainda um outro risco, talvez esse tão crítico quanto a saúde das pessoas que tomarão as vacinas: A própria credibilidade da ciência como instituição e dos cientistas como autoridades perante o público.

Caso as vacinas de mRNA sejam aprovadas sem que todos os critérios de segurança sejam cuidadosamente avaliados, há um grande risco de que eventuais efeitos colaterais danosos, sobretudo os de longo prazo, como a autoimunidade, venham reforçar os crescentes e preocupantes movimentos antivacina, fazendo a população duvidar da palavra dos cientistas em situações futuras.

Assim, o que se espera da ciência e dos cientistas é que eles não se esgueirem de "lidar com o elefante na sala", como disse a Dra Deborah Fuller, falando claramente com o público sobre as vantagens e os riscos das vacinas. A clareza e a honestidade certamente são as melhores prevenções contra problemas futuros indesejados.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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