04/10/2007

Oscilações da pressão arterial são explicadas por cientistas brasileiros

Antonio Carlos Quinto - Agência USP

Labilidade na aorta

Num artigo recentemente veiculado em revista internacional de farmacologia, cientistas brasileiros descreveram, pela primeira vez, os mecanismos causadores da labilidade na aorta isolada de ratos submetidos à desnervação sino-aórtica (um modelo experimental caracterizado por alta labilidade da pressão arterial, sem hipertensão).

A labilidade é uma anomalia caracterizada por oscilações da pressão arterial. "Trata-se de um fenômeno que é mais danoso do que a própria hipertensão arterial (pressão alta)", como explica o farmacêutico Matheus Lavorenti Rocha, um dos autores do trabalho publicado na revista australiana Clinical and Experimental Pharmacology and Physiology.

Informações sobre a pressão arterial

A professora Lusiane Maria Bendhack, do Departamento de Física e Química da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto (FCFRP), que é a orientadora do projeto de pesquisa, conta que todos os experimentos foram feitos com animais em laboratório. "O primeiro passo foi fazermos a desnervação, ou seja, a interrupção dos presso-receptores que levam informações sobre a pressão arterial ao cérebro", conta a professora.

Os presso-receptores são estruturas nervosas localizadas nas paredes de alguns vasos sangüíneos. Para esse procedimento, os pesquisadores efetuaram uma secção, o que causou uma lesão, provocando assim a labilidade da pressão arterial.

Oscilação da pressão arterial

Após provocar a lesão, os cientistas retiraram e isolaram a aorta dos animais. "Foi quando percebemos que a oscilação da pressão arterial, a labilidade, passou a ocorrer também na aorta, o que é incomum", descreve Lavorenti. Segundo o pesquisador, essa labilidade na aorta é causada por ciclos involuntários de contração e relaxamento.

Lusiane destaca que o trabalho é inédito justamente por identificar essa atividade oscilatória na aorta isolada dos animais. "Trata-se de uma pesquisa básica em que procuramos entender os mecanismos envolvidos nessa oscilação". Para tanto, os pesquisadores analisaram o endotélio vascular, que é a camada mais interna do vaso sangüíneo. O endotélio tem uma importante função reguladora da atividade oscilatória devido à produção de fatores de relaxamento, como o óxido nítrico.

Canais iônicos de cálcio e de potássio

Eles também estudaram a ativação de canais iônicos de cálcio e de potássio nos vasos dos animais. "Bloqueamos esses canais e percebemos que a atividade oscilatória depende do fluxo de íons cálcio e potássio. Os canais iônicos são importantes na contração e relaxamento", descreve Lavorenti. A oscilação (labilidade) depende justamente do movimento de contração e relaxamento na artéria.

A pesquisa

Os estudos de Lavorenti ainda não estão concluídos e sua tese de doutorado deverá ser defendida ainda este ano na FMRP. Mas, segundo Lusiane, a pesquisa mostra sua importância, já que as conseqüências danosas da hipertensão têm sido bastante estudadas, principalmente em modelos animais. Em modelos experimentais de hipertensão, a função dos presso-receptores também é deprimida, o que ao longo do tempo também induz a uma labilidade da pressão arterial.

Ela lembra que muitos estudos mostram que a labilidade da pressão arterial é mais nociva a alguns órgãos, como artérias, rins e coração, do que a própria hipertensão, fato este que sugere fortemente o controle da labilidade da pressão arterial para proteção destes órgãos.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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