19/01/2021

Autismo pode ter surgido porque ficamos iguais demais

Redação do Diário da Saúde
Nova teoria defende que autismo surgiu porque ficamos iguais demais
A Dra Meridian McDonald propõe que o autismo está crescendo porque "semelhantes atraem semelhantes" na sociedade moderna.[Imagem: Vanderbilt University Medical Center]

Fenótipos mais incapacidades

Uma explicação unificadora da causa do autismo e do motivo de sua prevalência crescente tem desafiado os cientistas há décadas.

Agora, a Dra. Meridian McDonald, da Universidade Vanderbilt (EUA), construiu um modelo teórico que ela acredita descrever a causa do autismo como uma combinação de características socialmente valorizadas, comuns no autismo, e um número variável de deficiências concomitantes.

"Até agora, existiam muitas teorias sobre as possíveis causas do autismo, mas nenhuma dessas teorias explica a maioria dos casos de autismo," destacou McDonald. "Também existem muitas teorias sobre por que a prevalência do autismo tem aumentado na população, mas, até o momento, não surgiu uma teoria que forneça um modelo explicativo que explique todos esses fenômenos, incluindo a genética, a história social ou as características do autismo."

Então ela elaborou tal teoria, que ela batizou com o complicado nome de Teoria da "Constelação Ampla do Fenótipo do Autismo"-"Paradigma da Matriz de Incapacidades", ou BAPCO-DMAP, na sigla em inglês.

Atração de iguais

O modelo mostrou-se consistente com a ciência atual sobre a genética do autismo, mas muda o foco para características positivas do autismo e para eventos históricos que mudaram a prevalência do autismo na sociedade.

"A teoria BAPCO-DMAP descreve como as pessoas são atraídas por outras pessoas muito semelhantes. Elas são atraídas por certas características que são muito comuns na população, e isso leva a descendentes com maior probabilidade de ter certas características, bem como uma maior intensidade de traços.

"Os traços (BAPCO) não são o que as pessoas esperam. Elas esperam que os traços falem sobre desafios ou dificuldades, mas, em vez disso, existem seis traços principais - maior atenção, maior memória, uma preferência pelo mundo dos objetos vs. o mundo social e seu ambiente, aumento da não-conformidade, aumento das diferenças sensoriais e de percepção, bem como sistematização," resumiu McDonald.

Aumento da prevalência de BAPCO e autismo

A teoria também destaca como a prevalência do autismo aumentou em países de renda mais alta devido às mudanças sociais, que aumentam as liberdades na educação, no emprego e em outras oportunidades para homens e mulheres.

Nas sociedades onde as pessoas não têm liberdade para perseguir seus interesses e paixões, onde a educação meritória não é valorizada, onde homens e mulheres não têm liberdade para escolher suas carreiras, e onde o não-conformismo não é tolerado, a Dra McDonald prevê frequências muito baixas de traços BAPCO nessas populações.

"A frequência e a intensidade dos traços BAPCO nos EUA aumentaram, por exemplo, porque os indivíduos são mais propensos a se encontrar e ter filhos com outros indivíduos com educação, ocupações e interesses semelhantes do que seria possível há 100 anos," detalha ela. "Quando homens e mulheres com traços BAPCO têm filhos, isso pode aumentar a frequência e a intensidade dos traços BAPCO na população."

Nova teoria defende que autismo surgiu porque ficamos iguais demais
Os testes para diagnosticar autismo têm tido sua validade questionada.
[Imagem: Jason Wolff/UNC]

BAPCO pode interagir com o desenvolvimento

As características BAPCO (maior atenção, maior memória, preferência por objetos, não-conformidade, diferenças sensoriais e de percepção e sistematização) por si só não são necessariamente incapacitantes.

Uma pessoa pode ter características BAPCO e ainda ter excelentes habilidades de comunicação e socialização, mas uma intensidade muito forte de qualquer uma dessas características pode afetar o desenvolvimento.

Por exemplo, embora pareça contra-intuitivo, McDonald descreve como o aumento da memória e da atenção pode atrasar o desenvolvimento da linguagem em crianças com traços BAPCO.

"Bebês típicos têm períodos de atenção e memória de trabalho minúsculos. Essas limitações de memória e atenção realmente ajudam os bebês a aprender sua primeira língua, quebrando as palavras em suas partes mais ínfimas. Mas bebês com níveis muito altos de atenção e memória tem mais dificuldade para aprender linguagem porque eles são incapazes de quebrar a linguagem em partes muito pequenas, então eles aprendem grupos de sons," disse ela.

A cientista também descreve como o aumento da memória e da atenção pode levar à ecolalia, uma condição na qual as crianças falam ou repetem frases longas sem parecer entendê-las. "Muitas vezes você pode ver crianças com autismo engajadas em atividades que fazem sentido, como assistir ao mesmo programa repetidamente e memorizar informações," disse ela.

Interação com deficiências

Os traços BAPCO também podem interagir com deficiências.

Se uma pessoa tem traços BAPCO e também uma deficiência, como síndrome de Down ou distúrbio de processamento de informações, essas coisas combinadas podem criar desafios maiores do que aqueles que seriam vivenciados por um indivíduo que tivesse apenas uma personalidade BAPCO ou uma deficiência, mas não ambas.

Sem cura para o autismo

McDonald disse que agora sabe o que causa o autismo, e que a condição não é algo que possa ser curado e, honestamente, ela não gostaria de fazer isso.

"O que chamamos de 'autismo' é a personalidade BAPCO combinada com uma deficiência ou características BAPCO muito intensas," disse ela. "Como a BAPCO é feito de características socialmente valorizadas, não é possível curar o autismo. Em vez disso, precisamos nos concentrar em toda a gama de deficiências que afetam as pessoas com e sem a personalidade BAPCO."

McDonald disse que pesquisas futuras devem se concentrar nas causas e no tratamento das deficiências subjacentes, e também no fornecimento de suporte, como intervenções para indivíduos com deficiência, incluindo aqueles que têm esta combinação de BAPCO e interseção com deficiência.

"Quando falamos sobre autismo, precisamos abordar as deficiências de desenvolvimento que esses indivíduos estão enfrentando, mas também encontrar uma maneira de apoiar e melhorar suas constelações de traços de autismo mais amplas," disse ela.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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