23/03/2020

Nossa memória privilegia a essência em detrimento da aparência

Redação do Diário da Saúde
Nossa memória privilegia a essência em detrimento da aparência
Porcentagem de evocações relatadas nos quatro experimentos para os diferentes tipos de similaridade entre as situações.[Imagem: UNIGE]

Como nos lembramos

Como a nossa memória faz para conectar uma situação atual, acontecendo no momento presente, a uma situação do passado?

A literatura científica postulava até agora que nós nos valemos das semelhanças superficiais entre as coisas e eventos para fazermos associações que nos ajudam a usar a experiência passada para resolver problemas atuais.

Em oposição direta a isto, psicólogos e neurocientistas da Universidade de Genebra (Suíça) descobriram que, na verdade, nossas lembranças são guiadas por semelhanças na estrutura e na essência, e não nas semelhanças aparentes.

Somente quando as pessoas não têm conhecimento suficiente sobre a questão é que elas recorrem às pistas superficiais - as mais fáceis de acessar - para relembrar uma situação.

Isto tem grande relevância para o campo da educação porque destaca a importância de que os materiais didáticos concentrem-se nos aspectos conceituais das situações abordadas, de forma a ajudar os alunos a fazer uso dos recursos relevantes, e a não serem enganados por aparentes semelhanças.

Essência versus aparência

Nossa memória organiza nossas experiências com base em duas características principais: características superficiais, que incluem semelhanças entre situações (o cenário, por exemplo, ou as pessoas presentes); e características estruturais, que caracterizam a profundidade da situação e seus questões-chave.

A literatura científica argumenta que as pessoas tendem a favorecer pistas superficiais ao lidar com uma determinada situação. "Isso geralmente é atribuído ao fato de que nosso cérebro procura a opção mais fácil quando se trata de recordar a memória, e que, em geral, a aparência de uma lembrança se correlaciona com sua estrutura," explica o pesquisador Emmanuel Sander.

Mas a equipe percebeu então que os estudos científicos anteriores se basearam em recordações frequentes de situações que não apenas compartilhavam as características superficiais (aparência), mas também parte da estrutura (essência). Eles também notaram que os participantes não possuíam o conhecimento necessário para compreender a estrutura profunda das situações que lhes eram apresentadas.

Para resolver esse problema, os pesquisadores criaram seis narrativas que compartilhavam os detalhes superficiais, a estrutura ou nenhuma das duas (conhecidas como distratores).

"Os resultados dos experimentos foram claros, com cerca de 80% dos participantes escolhendo a história com a mesma estrutura, em vez daquelas que compartilhavam a mesma superfície ou não tinham semelhança," descreve o professor Lucas Raynal.

O que acontece na escola?

A pesquisa questiona a ideia de que nossa memória é guiada pelo princípio da opção mais fácil e que os recursos superficiais dominam a lembrança.

"O modo de lembrar de um ser humano é menos superficial do que se pensava e, com toda a probabilidade, favorece a estrutura em detrimento da aparência," acrescentou Sander. "É apenas por ignorância que pistas superficiais terão precedência. Esse é um desafio real na escola, porque os conceitos educacionais podem ser opacos quando os alunos começam a aprender, portanto, o risco é que a aparência seja priorizada".

A conclusão é que esses resultados desempenham um papel fundamental na educação. "É uma questão de destacar os recursos relevantes para os estudantes. Em outras palavras, os aspectos conceituais das noções que estão sendo ensinadas, ajudando-os a categorizar as situações que são trabalhadas em sala de aula, ignorando os aspectos superficiais que os enganam," concluiu a professora Evelyne Clément.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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