13/01/2011
Negros e afrodescendentes continuam fora da mídia
Com informações da Agência USP
Pouca visibilidade midiática significa menos oportunidades e menor status social para os negros e afrodescentes.[Imagem: Ag.USP]
Universo branco
A baixa participação da população negra nas programações e propagandas veiculadas nos grandes meios de comunicação de massa no Brasil podem significar menores oportunidades de trabalho e alimentar um preconceito racial velado no país.
Para o pesquisador Osmar Teixeira Gaspar, da Faculdade de Direito da USP, "ter visibilidade acarreta algumas possibilidades ao longo da vida e a falta dela também pode criar um ideário popular de que determinadas funções devem ser ocupadas por determinados estereótipos".
Segundo o pesquisador, todo material publicitário atualmente ainda é feito com um recorte racial, assim como algumas telenovelas.
"Você raramente vê algum médico ou cientista negro nas telenovelas, isso faz um garoto negro pensar que, devido à sua cor, jamais poderá participar daquele universo branco e exercer aquelas funções. Esta censura midiática desperdiça e marginaliza talentos", afirma Gaspar. "Isso não incentiva negros a almejar determinadas profissões."
Modelos negras
O estudo desenvolvido por Gaspar busca traçar como o conteúdo dos veículos de comunicação de massa e seus personagens fatalmente refletem no mercado de trabalho.
Foram analisadas telenovelas das emissoras Globo, SBT e Record, no período de 2005 a 2010, e revistas impressas.
"Nas peças publicitárias ou nos comerciais de televisão, os elementos negros ou estão no fundo da cena ou não tem voz", relata o pesquisador.
O estudo examinou algumas revistas impressas brasileiras - como Elle, Sou+Eu, Manequim, Claudia, Vogue Brasil, TPM entre outras - e apontou que as mulheres brancas aparecem nessas publicações 94,08% das vezes contra apenas 6,081% das mulheres negras.
De acordo com o pesquisador, isso é um dos exemplos de como a ausência ou a discriminação da população negra nos veículos de massa refletem nas oportunidades profissionais. "As agências publicitárias pouco fazem uso de modelos afrodescendentes, o que não é justificável, pois as classes C e D do Brasil, onde se encontram a maioria da população negra, são um grande mercado consumidor", infere Gaspar.
Avanços sociais
Após anos de escravidão e influências europeias sob território tupiniquim, a ausência das populações negras nos palcos decisórios, de debate e de poder na sociedade brasileira se tornou algo natural, defende o pesquisador.
"Parte dos próprios negros se acostumaram com sua ausência e naturalizaram a ideia", afirma.
Segundo o pesquisador, um veículo de comunicação de massa participa das decisões e dos processos de construção de uma sociedade.
Por isso, um veículo de massa traz poder às pessoas que o possuem ou que fazem parte de sua programação e "atualmente, não há interesse que a população negra alcance esse poder e tenha voz para fomentar seus avanços sociais".
Homem antes do lucro
Por fim, Gaspar ressalta que deve-se apenas defender a Constituição Federal. "Nossa Constituição não hierarquiza e tampouco admite qualquer tipo de censura aos brasileiros em razão de seu fenótipo. Ao contrário, ela lhes assegura o direito de gozarem das mesmas oportunidades, representatividade e visibilidade", diz.
Contudo, segundo o pesquisador, é necessário que o Estado brasileiro implemente políticas públicas que efetivamente democratizem e assegurarem o acesso e a inserção desta população negra aos meios de comunicação de massa, de forma proporcional à sua representatividade dentro da sociedade brasileira.
"Entendo que a televisão comercial deve ser lucrativa, mas por outro lado, não se pode desvalorizar o ser humano. A TV deve e pode investir em uma grade de programação plural que aborde diversos aspectos culturais do Brasil e das etnias que compõem nossa sociedade", conclui.
Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br
URL: https://diariodasaude.com.br./print.php?article=negros-afrodescendentes-midia
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