01/04/2022

Genoma humano foi inteiramente sequenciado - De novo?

Redação do Diário da Saúde
Genoma humano foi inteiramente sequenciado - De novo?
Os cientistas afirmam que o anúncio anterior, feito há mais de 20 anos, foi prematuro. [Imagem: Ernesto del Aguila III/NHGRI]

Tirando o lixo do DNA

Os mais velhos certamente se lembrarão quando, há cerca de 20 anos, cientistas do Projeto Genoma Humano viraram celebridades internacionais ao anunciar que haviam conseguido sequenciar todos os genes do ser humano.

Bem, eles acabam de anunciar que aquela declaração foi um pouco prematura.

Mesmo após 20 anos de atualizações, 8% do nosso genoma ainda não havia sido sequenciado e estudado. Ridicularizado por alguns como "DNA lixo", sem função clara conhecida até então, cerca de 151 milhões de pares de bases espalhados por todo o genoma permaneciam sem a atenção devida.

Agora, uma enorme equipe internacional de cientistas voltou a público afirmando que finalmente conseguiu sequenciar os 8% restantes, desta vez "completando de fato" o sequenciamento do genoma humano.

Essa parte antes desprezada do nosso genoma de fato contêm mais do que mero lixo. Dentro dos novos dados estão misteriosos bolsões de DNA não codificante - que não produzem proteínas -, mas que desempenham papéis cruciais em muitas funções celulares e podem estar no centro de condições nas quais a divisão celular ocorre descontroladamente, como o câncer.

"Você poderia pensar que, com 92% do genoma concluído há muito tempo, outros 8% não contribuiriam muito," defendeu Erich Jarvis, coautor do estudo. "Mas, a partir dos oito por cento que faltam, agora estamos ganhando uma compreensão totalmente nova de como as células se dividem, permitindo-nos estudar uma série de doenças que não tínhamos conseguido antes."

Centrômeros

O Projeto Genoma Humano havia desvendado a eucromatina, a maior parte do genoma humano, que é rica em genes, empacotada de forma frouxa e ocupada em fazer RNA, que mais tarde será traduzido em proteínas. Mas foi deixado de lado um labirinto de heterocromatina repetitiva e bem enrolada - uma porção menor do genoma, que não produz proteínas.

As regiões eucromáticas continham mais genes e eram mais simples de sequenciar. Assim como um quebra-cabeça com peças bem diferentes é mais fácil de montar do que um quebra-cabeça composto de peças semelhantes, as ferramentas genômicas da época conseguiram analisar o DNA eucromático, mas não eram tão precisas para estudar o repetitivo genoma heterocromático.

Como resultado, os geneticistas chamaram essa parte do genoma de "lixo" e o deixaram para mais tarde. As sequências heterocromáticas por trás dos centrômeros, que se encontram nos pontos cruciais dos cromossomos e conduzem a divisão celular, foram todas marcadas com longas sequências de N para "base desconhecida" no genoma de referência. As sequências dos braços curtos dos cromossomos 13, 14, 15, 21 e 22 também foram omitidas.

Agora, novas técnicas finalmente permitiram desvendar essa parte restante do genoma.

Decepção com o sequenciamento do genoma

Infelizmente, o sequenciamento do genoma humano é sempre citado como a "decepção com o DNA", não porque este conhecimento não tenha importância, mas pela expectativa exagerada, gerada pela própria comunidade científica, dos resultados práticos para a saúde humana que se poderia obter com esse trabalho de sequenciamento completo do genoma.

Em vez das imaginadas "chaves liga-desliga", como os genes foram muitas vezes descritos, hoje se sabe que os genes operam de forma rítmica, seguindo o relógio biológico, o que tem levado a um crescente questionamento sobre a conexão entre genes e doenças.

Assim, embora este novo resultado esteja sendo apresentado novamente com grande esforço de mídia pela equipe de cientistas, o sequenciamento do genoma humano não irá "revolucionar" nem o nosso conhecimento fundamental da nossa fisiologia, e nem trazer automaticamente respostas para as muitas indagações sobre a saúde humana.

Estas muitas indagações exigirão muitas novas pesquisas, o que só poderá ser feito com um suprimento contínuo de recursos para a ciência, talvez direcionados para projetos menos pretensiosos.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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