07/10/2020

Ambiente social vence genética na influência do comportamento

Redação do Diário da Saúde
Ambiente social vence genética na influência do comportamento
O fato de alterar a genética dos indivíduos altera seu comportamento e o comportamento dos outros em relação a ele.[Imagem: Joana Carvalho]

Animais geneticamente modificados

Pesquisadores portugueses descobriram que o ambiente social em que o indivíduo se desenvolve pode reverter efeitos genéticos do seu comportamento, um dado particularmente importante para experimentos envolvendo animais geneticamente modificados.

A equipe analisou os comportamentos associados à oxitocina, ou ocitocina, que por muito tempo foi conhecida como "hormônio da felicidade" - até se descobrir que na verdade o tal de hormônio do amor tem duas caras.

De fato, os novos experimentos com animais mostraram que os comportamentos ligados à oxitocina podem ser revertidos apenas alterando-se o grupo social com que o indivíduo interage.

Em termos mais simples, os animais "detectam" de alguma forma as diferenças genéticas dos outros, o que influencia seu comportamento - algo que hoje não é levado em conta nos experimentos científicos.

Efeitos sociais genéticos

As interações entre indivíduos da mesma espécie moldam muitos aspectos da sua biologia, incluindo o comportamento social. Os efeitos sociais genéticos ocorrem quando o fenótipo de um indivíduo - suas características observáveis - é afetado pelas características genéticas dos outros indivíduos da sua espécie.

Estes efeitos são comuns e implicam consequências para a história evolutiva ou o estado de saúde de muitas espécies de animais.

Diogo Ribeiro e seus colegas do Instituto Gulbenkian (Portugal) usaram o peixe-zebra (Danio rerio) como organismo modelo, tentando perceber a forma como os efeitos sociais genéticos afetam a interação entre o indivíduo e o seu cardume. Para isso, eles usaram dois tipos de peixe-zebra: uns semelhantes aos encontrados na natureza e outros nos quais o gene da oxitocina foi removido.

Os resultados do estudo mostram que tanto a preferência como a integração e a influência sociais mudam dependendo da presença ou ausência da oxitocina no cardume.

Contrariamente, a genética do indivíduo é o que determina se este consegue criar memórias e por isso discriminar entre cardumes diferentes. "As diferenças genéticas do grupo social interagem com as do indivíduo durante a aquisição de comportamentos sociais e durante o seu desenvolvimento, podendo em alguns casos reverter características comportamentais associadas à oxitocina", explicou o professor Rui Oliveira.

Edição genética

Estes resultados têm especial interesse quando se projetam modelos experimentais com edição de genes. A edição genética faz parte do conjunto de ferramentas mais essenciais para responder a questões fundamentais da biologia e da medicina.

No caso da biologia comportamental, através da alteração da atividade de certos genes e análise dos seus efeitos, os cientistas conseguem estabelecer relações causais entre genes e comportamentos.

"Os nossos resultados realçam a necessidade de maior cuidado no desenho e interpretação de estudos que usam organismos geneticamente modificados, já que as diferenças comportamentais observadas podem ser consequência de efeitos sociais genéticos e não da edição genética em estudo," acrescenta Rui Oliveira.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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