12/07/2022

Violência política é resultado de alienação social e paixão obsessiva

Redação do Diário da Saúde

O que torna pessoas extremistas?

O extremismo violento pode ser definido como o apoio à violência para atingir objetivos políticos, ideológicos ou sociais.

Sob o guarda-chuva desse tipo de mentalidade, atos violentos têm sido historicamente vistos por diferentes grupos humanos como um meio legítimo de impor um modo de vida no qual não há espaço para a diversidade.

E, apesar de não se entenderem facilmente, aqui radicais de direita e de esquerda são incrivelmente similares, propondo desde sociedades "igualitárias" por raça até sociedades "igualitárias" por função econômica.

Mas o que realmente está por trás desse tipo de comportamento, e o que leva uma determinada pessoa a apresentar esses comportamentos, nos quais a violência política é uma opção desejável?

Uma equipe de psicólogos da Universidade de Córdoba (Espanha) decidiu analisar alguns dos fatores envolvidos nesse processo de radicalização.

A principal conclusão é que existem dois elementos que podem fomentar o extremismo e que, portanto, podem ser considerados fatores de risco: A alienação social e o que na literatura científica é conhecido como "paixão obsessiva".

Quanto mais intensos forem esses dois sentimentos, "maior será o apoio à violência política", afirma o estudo.

Alienação social e paixão obsessiva

Enquanto a alienação social pode ser entendida como um sentimento de distanciamento e desconexão da sociedade, a paixão obsessiva implica uma tendência a uma determinada atividade na qual, de certa forma, se perde o autocontrole.

"Existe uma paixão harmoniosa, que é positiva e nos estimula a realizar ações gratificantes, mas também há outra ligada a indicadores negativos de saúde mental e ajuste psicossocial," explicou o pesquisador Manuel Moyano. "É justamente esse último sentimento que, de acordo com os resultados do estudo, torna os indivíduos mais propensos a responder violentamente ao que consideram ataques à sua identidade."

Para chegar a essa conclusão, a equipe pesquisou mais de 1.500 pessoas com variadas idade, formação, educação e situação profissional, fazendo dois experimentos complementares. O primeiro avaliou o conceito de religião como causa da paixão obsessiva, enquanto um segundo estudo, realizado com outro grupo, analisou outra das causas que podem transformar certas pessoas em seres "obsessivamente apaixonados": a família.

Independentemente da idade, formação, escolaridade e situação profissional, a equipe confirmou a mesma hipótese em todos os grupos: O sentimento de alienação social - ou seja, de desengajamento com a sociedade - pode desencadear comportamentos extremos e apoio à violência política, especialmente nas "pessoas que desenvolvem uma paixão obsessiva por uma determinada causa ou ideologia".

No entanto, os dados também sugerem que há muitas causas que podem dar rédea solta a essa paixão descontrolada, o que exigirá estudos específicos para que o papel de cada uma possa ser avaliado.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Disconnected Out of Passion: Relationship Between Social Alienation and Obsessive Passion
Autores: Roberto M. Lobato, Josep García-Coll, Manuel Moyano
Publicação: Journal of Interpersonal Violence
DOI: 10.1177/08862605221094631
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