Ironia tóxica
A ironia tornou-se um meio de disseminação de ideias tóxicas online.
Pesquisadores descobriram que o uso da ironia está crescendo tanto na política quanto nas comunidades online radicais, já que é uma ferramenta adequada para quem tenta navegar por grandes mudanças políticas e econômicas.
Essas ironias estão incorporadas em ideias, piadas, memes e imagens usadas por movimentos sociais, e já estão inextricavelmente interligadas com a ascensão dos grupos de extrema-direita.
Segundo os pesquisadores, examinar a ironia no discurso online e offline pode ajudar a entender como coalizões políticas influentes recentes são mantidas coesas mesmo que os envolvidos sejam de origens ou ideologias diferentes.
Por exemplo, estudar a ironia pode ajudar a explicar como os movimentos políticos estão sendo mobilizados, já que ela tem o poder de levar as pessoas a se comprometerem com ideias emergentes, obscuras, ambivalentes, carregadas ou mesmo contraditórias - você nunca afirma ou debate uma posição de modo razoável, basta ironizar tudo o que o "inimigo" fala, e isso garante a coesão do grupo, por mais heterogêneo que ele seja.
"A governança econômica contemporânea, a desigualdade arraigada, a crescente complexidade social e o colapso das certezas políticas estabelecidas tornam mais difícil imaginar futuros próximos plausíveis e traçar causas e efeitos políticos.
"A ironia pode permitir que as pessoas apontem para os males políticos e representem algo, diante da vertigem existencial - mesmo que não seja exatamente claro o que seja esse algo. Nesse sentido, a ironia também oferece um meio para reunir coletivos políticos e orientá-los em uma direção comum," disse a professora Susannah Crockford, da Universidade de Exeter (Reino Unido.)
Não precisa acreditar em nada, basta ironizar
A conclusão da equipe é que a ironia gera uma intensidade e energia que podem desempenhar um papel importante na animação das crenças das pessoas, transformando-as de proposições em convicções, investindo-as de um senso de possibilidade e induzindo as pessoas a agir e protestar, mesmo que elas não saibam exatamente contra o quê, como ficou patente nas entrevistas feitas com manifestantes logo após a invasão do Capitólio, nos EUA, e das sedes dos Três Poderes, no Brasil.
"Para participar dessas comunidades não se exige que se 'acredite' em nenhuma ideologia específica. O prazer efervescente da participação vem da experiência de fazer parte de uma comunidade linguística viva, que está sempre evoluindo por meio da inovação de novos vernáculos," disse o pesquisador Farhan Samanani.
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