21/07/2021

Tratamento combinado faz câncer de mama regredir seis vezes mais rápido

Redação do Diário da Saúde
Tratamento combinado faz câncer de mama regredir seis vezes mais rápido
Parte da pesquisa foi realizada no Brasil e parte nos EUA.
[Imagem: IQSC]

Tratamento combinado

Um composto identificado por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP de São Carlos) e de Harvard (EUA) pode acelerar em até seis vezes a regressão do tipo mais agressivo do câncer de mama, o triplo-negativo.

"Nós levantamos 192 compostos, que estavam em uma biblioteca de compostos, de drogas, do laboratório. A gente já sabia onde esses compostos iam operar no metabolismo da célula. Testamos para verificar qual deles atingia a célula especificamente do triplo-negativo," contou o pesquisador Vinícius Guimarães Ferreira.

Usando o composto como ponto de partida, a equipe está propondo uma estratégia de tratamento com o objetivo de diminuir os tumores de forma mais rápida e reduzir os efeitos colaterais gerados às pacientes pela quimioterapia.

Diferentemente do tratamento convencional, em que a quimioterapia é aplicada como primeiro e um dos únicos recursos, a nova proposta envolve uma etapa prévia, que enfraquece as células tumorais antes que elas sejam tratadas com os quimioterápicos. O objetivo é que elas apresentem uma resistência menor e morram mais rápido.

Além disso, ao deixar o tratamento contra o tumor mais eficiente, reduz-se o tempo que a paciente estará sujeita aos efeitos colaterais dos medicamentos tóxicos utilizados na quimioterapia. "É como se fosse um barranco, você empurra a célula perto do barranco para entrar o quimioterápico e dar aquele último empurrão," comparou Vinícius.

Molécula ideal

Para encontrar a "molécula ideal" para dar o primeiro empurrão, Vinícius testou todas as substâncias candidatas contra as células doentes com ajuda de uma impressora de compostos químicos, capaz de aplicar cada substância sobre as células de forma automática.

Posteriormente, as células foram colocadas em um outro aparelho que avaliou o quão enfraquecidas elas ficaram. Vinícius então analisou e interpretou os resultados até identificar o composto que melhor atendia aos objetivos propostos, ou seja, o que deixou as células mais próximas da morte. Isso foi medido, resumidamente, pela quantidade de proteínas (citocromo c) que elas perderam após receber a ação dos compostos, indicando qual o grau de vulnerabilidade das células.

"No final, a gente encontrou alguns que eram os mais promissores e fomos para o modelo animal," contou o pesquisador. As drogas que deixaram os tumores mais vulneráveis foram testadas em camundongos modelos de câncer de mama.

O teste durou 21 dias e mostrou resultados animadores: usando apenas um medicamento quimioterápico padrão, houve regressão de 10%. No tratamento combinado, o tumor diminuiu 60%. "A terapia foi 500% mais eficaz," disse Vinícius.

Menos efeitos colaterais

Pelo fato de proporcionar um resultado mais eficiente contra o tumor, a nova proposta de tratamento poderá permitir que os pacientes sofram menos com os efeitos colaterais gerados pelos medicamentos altamente tóxicos que são administrados na quimioterapia.

"Com as células cancerígenas intactas, o quimioterápico levaria um tempo maior para matá-las, gerando mais reações adversas aos pacientes que provavelmente precisariam passar por mais sessões. Já com a nossa proposta, a partir do momento em que nós temos células tumorais sensibilizadas previamente, a efetividade do quimioterápico aumenta e sua toxicidade para as células saudáveis diminui," explicou o professor Emanuel Carrilho, um dos orientadores da pesquisa.

Conforme dados da Sociedade Americana de Câncer, o câncer de mama triplo-negativo é responsável por cerca de 10% a 15% dos cânceres de mama e é mais comum em mulheres com menos de 40 anos. É um tipo de câncer que cresce mais rápido, tendo opções de tratamento limitado.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Metabolic perturbations sensitize triple-negative breast cancers to apoptosis induced by BH3 mimetics
Autores: Veerle W. Daniels, Jason J. Zoeller, Nick van Gastel, Kelley E. McQueeney, Salma Parvin, Danielle S. Potter, Geoffrey G. Fell, Vinícius G. Ferreira, Binyam Yilma, Rajat Gupta, Johan Spetz, Patrick D. Bhola, Jennifer E. Endress, Isaac S. Harris, Emanuel Carrilho, Kristopher A. Sarosiek, David T. Scadden, Joan S. Brugge, Anthony Letai
Publicação: Science Signaling
Vol.: 14, Issue 686, eabc7405
DOI: 10.1126/scisignal.abc7405
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