25/05/2023

Homem paraplégico volta a andar ativando implantes cerebrais com o pensamento

Com informações da BBC e New Scientist
Homem paraplégico volta a andar ativando implantes cerebrais com o pensamento
O paciente precisa usar um capacete e uma mochila contendo um computador.
[Imagem: CHUV 2022/WEBER Gilles]

Sinais para andar sem fios

Um homem paraplégico conseguiu voltar a andar simplesmente pensando nisso graças a uma nova geração de implantes cerebrais eletrônicos.

Os implantes eletrônicos transmitem sem fio seus comandos cerebrais de movimento para um segundo implante em sua coluna, colocado após a lesão. Esse segundo implante então retransmite os sinais pelos nervos não lesionados até as pernas e pés.

Gert-Jan Oskam, um holandês de 40 anos, perdeu o movimento das pernas em um acidente de bicicleta há 12 anos.

A neurocirurgiã Jocelyn Bloch, professora da Universidade de Lausanne (Suíça), responsável pela cirurgia de inserção dos implantes, destaca que o sistema continua em estágio de pesquisa básica e faltam muitos anos para que ele esteja disponível para pacientes com paralisia em geral.

"O importante para nós não é apenas realizar um experimento científico, mas eventualmente dar mais acesso a mais pessoas com lesões na medula espinhal que estão acostumadas a ouvir dos médicos que precisam se acostumar com o fato de que nunca mais terão movimentos," disse ela.

Dois implantes e uma mochila

A cirurgia para restaurar o movimento de Gert-Jan, realizada em julho de 2021, consistiu em dois orifícios circulares em cada lado do crânio, com 5 cm de diâmetro, acima das regiões do cérebro envolvidas no controle do movimento. Em seguida, foram inseridos dois implantes em forma de disco, que transmitem os sinais cerebrais sem fio - os desejos de Gert-Jan pelo movimento - para dois outros dispositivos presos a um capacete que deve ser usado pelo paciente.

Os pesquisadores precisaram também desenvolver um algoritmo para traduzir os sinais coletados dos dois implantes em instruções para mover os músculos das pernas e pés. São esses sinais traduzidos que são enviados para o segundo implante, inserido ao redor da medula espinhal de Gert-Jan. Isso, contudo, exige um computador, que fica dentro de uma mochila usada pelo paciente.

Após algumas semanas de treinamento, o paciente conseguiu ficar de pé e andar com o auxílio de um andador. Seu movimento é lento, mas suave. O sistema é volumoso e não permite um uso contínuo. Em vez disso, o paciente o usa por cerca de uma hora, algumas vezes por semana, como parte de sua recuperação.

Outra conclusão da equipe é que o ato de caminhar treina os músculos e restaura um certo grau de movimento quando o sistema é desligado, indicando que os nervos danificados podem estar crescendo novamente.

O objetivo agora será miniaturizar a tecnologia, para que ela possa ser comercializada e comece a ser usada no dia-a-dia dos pacientes, e não apenas algumas horas por semana.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Walking naturally after spinal cord injury using a brain-spine interface
Autores: Henri Lorach, Andrea Galvez, Valeria Spagnolo, Felix Martel, Serpil Karakas, Nadine Intering, Molywan Vat, Olivier Faivre, Cathal Harte, Salif Komi, Jimmy Ravier, Thibault Collin, Laure Coquoz, Icare Sakr, Edeny Baaklini, Sergio Daniel Hernandez-Charpak, Gregory Dumont, Rik Buschman, Nicholas Buse, Tim Denison, Ilse van Nes, Leonie Asboth, Anne Watrin, Lucas Struber, Fabien Sauter-Starace, Lilia Langar, Vincent Auboiroux, Stefano Carda, Stephan Chabardes, Tetiana Aksenova, Robin Demesmaeker, Guillaume Charvet, Jocelyne Bloch, Grégoire Courtine
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-023-06094-5
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