27/09/2024

Psicólogos são tão bons cientistas quanto céticos que os criticam

Redação do Diário da Saúde
Cientistas da psi são tão bons cientistas quanto os céticos que os criticam
É milenar a discussão se a mente humana é material ou imaterial.
[Imagem: Gerado por IA]

Querelas científicas

Ser cientista não é fácil, sobretudo se você é um cientista da área de ciências humanas ou, mais especificamente, das áreas que estudam o ser humano e seu comportamento, como a psicologia.

Além de se desdobrar para fazer seu trabalho, os cientistas das chamadas ciências "psi" precisam se livrar da implicância dos seus colegas de outras áreas que, vez por outra, em vez de tentarem fazer suas próprias descobertas ou checar a qualidade da ciência feita em suas áreas, dedicam-se a tentar lançar dúvidas sobre os trabalhos de áreas das quais não entendem.

E é um problema político sério: Recentemente, a renomada revista Nature lançou um esforço para monitorar a qualidade dos artigos científicos - mas só da área psi.

Não parece uma postura verdadeiramente científica, já que mais um estudo acaba de revelar que os pesquisadores que estudam as capacidades psíquicas diferem dos indivíduos leigos (não cientistas) que acreditam nessas capacidades, mas não diferem dos cientistas céticos no que diz respeito ao pensamento ativamente aberto.

Apesar de acreditarem nos fenômenos da psi, os pesquisadores da área de psicologia demonstraram um compromisso com a necessidade de obter provas científicas que não é em nada diferente do compromisso declarado pelos cientistas de outras áreas.

Fenômenos psíquicos

Os fenômenos psíquicos, tais como a percepção extrassensorial (a suposta capacidade de perceber informações sem usar os sentidos físicos) ou a psicocinese (a suposta influência de processos mentais em sistemas físicos), há muito cativam o interesse e a curiosidade da humanidade, sendo a crença nesses fenômenos relativamente elevada entre a população em geral.

Muitas vezes essa crença é, no entanto, encarada com ceticismo e descartada como irracional e não científica, particularmente entre os acadêmicos. Isto apesar da investigação acadêmica sobre fenômenos psi remontar ao século XIX e continuar até hoje a produzir estudos científicos publicados em revistas de psicologia e neurociências revisadas pelos pares.

Em forte contraste com os acadêmicos em geral, a maioria dos pesquisadores no campo da psi parece apoiar a realidade desses fenômenos, o que levanta a suspeita de que eles não seriam totalmente isentos para analisar seus dados, o que poderia levar a provas inconsistentes.

Não foi o que constataram Marieta Pehlivanova e seus colegas da Universidade da Virgínia (EUA).

Cientistas da psi são tão bons cientistas quanto os céticos que os criticam
Todos temos capacidades psíquicas extrassensoriais, mas nosso cérebro as inibe
[Imagem: Cortesia Charité - Universitätsmedizin Berlin]

Boa ciência

A equipe investigou as diferenças nos estilos cognitivos entre quatro grupos heterogêneos relativamente à crença em psi, às atitudes e ao envolvimento nas pesquisas dessa área: Pesquisadores acadêmicos de psi, leigos crentes em psi, acadêmicos céticos e leigos céticos.

A intenção era testar a hipótese de que os pesquisadores acadêmicos psi poderiam apresentar estilos cognitivos diferentes dos indivíduos leigos interessados em psi, mas semelhantes aos céticos. Sem surpresa, a equipe verificou que, dado o seu diferente envolvimento com os fenômenos psíquicos, os pesquisadores psi relataram uma crença significativamente maior nos fenômenos psi em comparação com os acadêmicos céticos, confirmando estudos anteriores.

No entanto, os resultados também demonstraram que, igualmente como previsto, os pesquisadores psi e os acadêmicos céticos não apresentam qualquer diferença nos estilos cognitivos do pensamento ativamente aberto e da necessidade de resposta.

Por outro lado, os pesquisadores psi mostraram maior abertura de espírito em comparação com os leigos crentes, o que sugere que eles estão mais dispostos a considerar provas que contradigam as suas crenças.

Em conjunto, os resultados sugerem que "esses dois grupos (pesquisadores acadêmicos de psi e acadêmicos céticos), que estão filosófica e empiricamente em desacordo em relação às evidências dos fenômenos psi, não diferem no seu apoio aos princípios de 'bom' pensamento sobre evidências," concluiu Pehlivanova.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Cognitive styles and psi: psi researchers are more similar to skeptics than to lay believers
Autores: Marieta Pehlivanova, Marina Weiler, Bruce Greyson
Publicação: Frontiers in Psychology
Vol.: II
DOI: 10.3389/fpsyg.2024.1398121
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